domingo, 11 de abril de 2010

O Miserável



         Dois mendigos estavam em uma disputa para ver qual era o mais miserável. Isto por que viviam num bairro de certa cidade onde os moradores resolveram dá ao mais miserável, abrigo e comida de graça pelo resto das suas vidas. Antes disso, porém, eles viviam na mais perfeita harmonia. Cada um estava sempre pedindo em um lugar oposto do bairro, e só se encontravam na hora de dormir. Neste momento, conversavam sempre a respeito de onde tinha uma pessoa mais generosa. Assim, davam dicas um ao outro, sobre a coleta do dia seguinte. E assim foi ano após ano de mendigagem. Esta paz só foi quebrada quando os moradores foram pesquisados sobre quem era o mais miserável, uns diziam que era o mendigo 01 (um), outros que era o mendigo 02 (dois). Diante da aparência caótica dos mendigos, os moradores planejaram uma grande festa para decidir quem era o mais miserável, e arrecadar fundos que seria doado para o perdedor. Já que, o vencedor ganharia abrigo e comida pelo resto da vida.
           A notícia das intenções dos moradores foi dita aos mendigos quatro dias antes da festa. Um clima de desconfiança se instala entre os dois. Na primeira noite já se olhavam atravessado. Conversavam não mais com a intenção de passar as informações das coletas, mas sim, tentando descobrir algo que fizesse um miserável parecer menos miserável. Todo que tinham carregavam em sacolas velhas que arrastavam pelo bairro. Mesmo assim a conversa se processa na seguinte forma:
1-     Quem é o mais miserável, eu ou você?
2-     Acho que sou eu!
- Por que você? O que eu tenho mais que você?
- Você tem um lençol!
- Por isso? E você que tem um prato e colher! Quando uma alguém te dá comida você vai logo pedindo pra lavar o prato e colocar a comida nele!
- O que isto tem demais?
- É por isso que sou o mais miserável, você tem mais besteira que eu! Eu lá ligo em que to comendo! Eu quero é comer seja lá em que for!
     
       Assim a disputa seguiu noite a dentro, buscavam na memória traços de vaidade ou de amor próprio na busca de denegrir a imagem de miserável que cada um tinha. No dia seguinte, não saíram pedindo nas portas das casas, como era de costume. Preferiram ficar em locais movimentados onde pudessem mostrar todas suas misérias. Pra isso, um teve a idéia de rasgar as roupas que estava usando. O outro se suja mais ainda com uma lama podre. Durante todo o dia exaltaram o choro, o lamento, os uis e os ais. Gemiam tanto e choravam tanto que algumas pessoas comovidas queriam ajudar. Outros por sua vez, olhavam com desdém achando que todo aquilo era fingimento dizendo que o outro mendigo era mais miserável.
           A noite chega, seguisse a mesma ladainha entre os mendigos. Estudavam-se para saber o que o outro tinha feito para que as pessoas o achassem o mais miserável. Faltavam três dias para a decisão, cada um pensava que tinha que fazer muito mais se quisesse ganhar o concurso. Começam a pensar que qualquer coisa valeria a pena para ter casa e comida de graça pelo resto da vida. Por mais que fizessem, uma ou outra pessoa achava que o outro era o mais miserável. Feriram-se por conta própria, deixando as feridas apertas para que as moscas pousassem causando infecção e mau cheiro. A disputa era acirrada, cada um tentando fazer o melhor que podia. Na ultima noite um dos mendigos teve uma grande e déia: No dia seguinte, que era o dia da eleição, iria se jogar na frente de um carro, com isso, pensa ele, não teria a mínima chance de não ganhar. Na manha seguinte, assim o vez, escolheu uma rua movimentada com a circulação de carros. Sentou no chão. Chorou e se lamentou. Expões suas feridas, preparando a grande cena. Em um piscar de olhos estava estirado no asfalto na frente de um carro. Um grande tumulto se vez. Pessoas para lá e para cá. Uns querendo ajudar, outros sem querer ver. Outros achando que era melhor daquele jeito do que ficar uma vida toda de sofrimento. A notícia corre rápido pelo bairro, a respeito do atropelamento do mendigo que ganharia logo mais o direito de pelo resto da vida ter casa e comida.   Assim que o outro mendigo tem a ciência do acontecido, parte para o ataque. Tinha que ser rápido, e bolar algo que também chamasse a atenção. Olhou para um lado, olhou para o outro, decidiu. Subiu em um prédio, que não era muito alto, mas o suficiente para chamar a atenção. Sentou na borda de uma parede, gritou, fez gestos, se lamentou em um descuido escorregou. Estava lá mais um corpo estendido no asfalto, sangue correndo, ossos quebrados o fim da vida.
        Os dias passam, outros mendigos assumem os lugares dos que morreram. Novamente um grupo de moradores se reúne para promover um novo concurso. Decidem que iria ser todo do mesmo jeito de antes. Deixando que a cobiça de cada um decidisse que ganharia o premio.

 Obs. (Muitas pessoas são enganadas, devido sua própria cobiça).