quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Pequena História (capítulo 01)

A felicidade construída com mentiras é como um castelo de areia construído na beira da praia, mais cedo ou mais tarde, vem uma onda de verdade destruindo com rapidez o castelo que levou horas para ser construído.
- Carlos! Carlos, meu filho, acorda! Está na hora de acordar. Vamos Carlos, levanta. Seu pai já está tomando café. – Sônia, mãe de Carlos, sai do quarto e vai para a cozinha onde Dantas toma o café da manhã.
- Carlos levantou?
- Não.
- Carlos precisa ter mais responsabilidade, toda manhã é a mesma ladainha.
- Calma, Dantas. Você sabe que apesar dele ter 17 anos, em certas coisas, age como se fosse uma criança.
- É eu sei. – Dantas segue para o quarto, onde Carlos finge dormir.
- Vamos lá, seu preguiçoso, está na hora de acordar, já é hora de perder este costume de todas as manhãs eu te acordar. – Dantas puxa o lençol de Carlos que se torce todo na cama, demonstrando uma enorme preguiça para levantar.
- Espera pai, só mais um pouco!
- Nada disso, são seis e meia, mais um pouco você chegará atrasado na escola.
- Ah, pai, só mais uns minutinhos!
Dantas puxa Carlos pelos pés, o tirando de cima da cama. Como sempre faz, Carlos deixa o corpo cair no chão embalado pela preguiça. Com muita paciência, Dantas levanta o filho do chão e o leva para o banheiro, que está localizado no corredor, vizinho ao quarto de Carlos.
Sônia está na cozinha preparando o café de Carlos, dos seus olhos corre uma lágrima ao pensar como sua vida é feliz. Tem um marido que é dedicado ao trabalho e a casa, um filho que nunca deu trabalho, além dos normais de um garoto na sua idade. Nesse momento pára e reflete sobre outros lares que não tem esta felicidade. No seu íntimo, se sente orgulhosa pelo lar que construiu.
Quando Dantas entra pela cozinha, pega a pasta que está sobre a mesa e dirige-se para a porta de saída da casa.
- Eu já estou de saída. Com estas brincadeiras sempre corro o risco de chegar atrasado. Não dá mole, não, se não o nosso garotinho faz corpo mole.
- Você vem almoçar?
- Acho que não.
- Logo hoje que eu estava querendo fazer um almoço todo especial!
- Desculpa! Hoje é o dia que terei que visitar uns clientes, por sinal, um muito chato.
Dantas e Sônia se despedem com um beijo carinhoso. Sônia fecha a porta e volta para a cozinha, onde Carlos já estava sentado à mesa tomando o café. Ela olha para o filho sentado ali com uma expressão de felicidade e novamente lhe vem o pensamento de instantes atrás, não entende por que de tais pensamentos, mas resolve não deixar que os mesmos estraguem aquele momento.
- Você quer mais suco?
- Não, eu não estou com muita fome hoje, durante a noite tive um sonho muito estranho, mas que não consigo lembrar direito.
- Isso é motivo para não ter fome?
- Eu acho que não!
- Então mocinho, trate de comer tudo e não vá ficar pensando nesses sonhos ou acabará estragando seu dia.
- Tá bom, já não to mais pensando!
- Acho muito bom que o senhor não fique se ligando a sonhos, para não esquecer da realidade que hoje são seus estudos. O vestibular está bem perto e eu não vejo muito interesse de sua parte!
- Pega leve, mãe! Não estou tão ruim para ficar levando uma dura da senhora!
- Olha como fala com sua mãe, menino! Lembre-se que você não está falando com seus amigos de escola!
- Desculpa mãe. – Sônia chega perto de Carlos, passa a mão nos seus cabelos e lhe dá um abraço.
- Vai, filho, que está na hora da escola. – Carlos levanta-se da mesa, vai para o quarto, coloca uma roupa que estava separada na cama, coloca o seu tênis preferido e pega os livros que estavam juntos ao computador. Sua atenção volta-se para o mesmo e lembra das histórias que lera em uns sites, quando pesquisava um trabalho para o colégio. Ficará muito impressionado chegado a ter sonhos com este assunto. Faz uma relação do que lera com passagens de seu sonho em que ele se via sentado na frente de um computador, quando Seus pensamentos são interrompidos pelo chamado de sua mãe.
- Carlos, você vai chegar atrasado à escola!
- Pronto, mãe. Já estou de saída!
- Preste atenção nas aulas, seu pai anda reclamando que estou muito mole com você.
- Ora, mamãe, todas as minhas notas estão na média.
- Não é só as suas notas da escola que interessa. Este ano tem o vestibular e você terá que se empenhar muito mais, se quiser ser aprovado.
- A senhora sabe que quero ser aprovado e que eu não tenho tanta dificuldade assim para aprender as matérias.
- Eu sei meu filho, mas é que nós ficamos preocupados, afinal você é nosso único filho.
Carlos dá um longo abraço na sua mãe e sai em direção ao portão que dá para a rua. Sua mãe entra e fecha a porta. Carlos não consegue parar de recordar a impressão que teve ao ver o computador. No caminho se encontra com uns amigos da escola e seguem juntos.
Na escola, Carlos e outros alunos estão desenvolvendo um trabalho de pesquisa sobre o envolvimento de jovens com as drogas. Folheiam páginas de jornal antigo à procura de matérias sobre esse assunto. O grupo de Carlos tem mais cinco alunos que são duas moças e três rapazes, todos da mesma idade.
Todos os grupos da classe têm que fazer um trabalho sobre o mesmo assunto, mas focando o perfil do usuário pela faixa etária. Para o grupo de Carlos coube a idade dos 14 a 18 anos. Todos do grupo ficaram empolgados com esse trabalho. Explorariam muito bem o assunto, pois estavam na faixa de idade que correspondia do grupo, levando em consideração que, todos conhecem ou conheceram pessoas que se envolveram com drogas. Desse modo, cada um contava sua história sobre o assunto e cada um fazia comentários, procurando alternativas que poderiam ter sido usadas para evitar o uso das drogas ou fazer com que o usuário parasse de consumi-la.
Enquanto pesquisavam, encontravam nas páginas dos jornais histórias das mais comoventes, todas tinham sempre o mesmo fim. Morte por overdose suicídio, prisão, sobrando para a família o desespero e uma sensação de impotência por não terem conseguido fazer com que os usuários entendessem que todos só queriam poder ajudá-los.
Carlos novamente começa a fazer uma relação entre seus sonhos e o assunto do trabalho, não entende direito por quê. Mas sabe que teria uma resposta mais tarde. Ao término da exposição dos trabalhos, Carlos levanta uma outra questão.
- Professor!
- Pois não, Carlos!
- Todos nós sabemos como as pessoas entram no mundo das drogas, mas será que uma pessoa pode ser envolvida de certa forma para o vício?
- Bom, do meu ponto de vista as pessoas podem ser envolvidas para o consumo das drogas. Mas isso não pode funcionar como desculpa para tirar a culpa de quem consome drogas. Como todos vocês podem observar. O envolvimento parte, muitas vezes, da procura de auto-afirmação perante outros membros do grupo com quem se convive. Então, pessoas, melhor dizendo, jovens, acham que fazendo o que os outros fazem mesmo sabendo estarem errados, mesmo assim, fazem, só para mostrar que têm personalidade formada. Mas na realidade são pessoas imaturas que não poderiam nem pegar um ônibus só. Exceto nos casos em que a sociedade não oferece melhor opção, que não é o caso de vocês!
A campainha toca, todos os alunos levantam das suas cadeiras para sair. Mas Carlos permanece sentado pensando sobre a resposta do professor. Pensava Carlos: Era certo que o professor estava com a verdade, mas por que aquela sensação de que ele estava enganado?
Depois de instantes, Carlos levanta-se e meio desorientado sai da sala, caminha pelo corredor. Não conversa com ninguém, só pensava que deveria ir para casa. Do colégio para casa era relativamente perto, mas para ele pareciam muitos quilômetros. Entrando em casa, cumprimenta sua mãe e passa para o quarto. Sônia percebe que o filho não está bem, lembrando que ele tinha falado pela manhã que não tinha dormido muito bem, acha que ele poderia esta ainda com sono. Termina de colocar o almoço na mesa e chama Carlos para almoçar.
- Carlos não vá dormir agora, não! Já estou colocando almoço na mesa.
- Só um instante mãe. – Carlos estava deitado na cama olhando para o teto, pensando em cada palavra do professor. Sabia que ele estava correto, mas a impressão que não era aquela a resposta que ele queria, não passava. Levanta da cama, já estava saindo do quarto, quando novamente sua atenção volta para o computador. Sônia torna a chamar, mas Carlos já estava entrando pela cozinha.
- Pensei que iria deixar o almoço esfriar!
- E o pai, não vem para o almoço?
- Não! Seu pai disse que iria visitar uns clientes. Você está querendo falar alguma coisa com ele? Se quiser pode falar comigo que te escutarei do mesmo jeito do seu pai. Tenho notando que você anda, “como você diz”, um pouco fora de tempo. – Carlos pensa um pouco, não queria deixar sua mãe preocupada, mas sabe ele, que seria pior se não falasse. Com certeza ela pensaria que ele estava com problemas na escola, criando um problema de verdade.
- Hoje na escola, estávamos fazendo um trabalho sobre as drogas, não era especificamente sobre as drogas, mas sobre o perfil do usuário pela faixa etária. Ficou para meu grupo a faixa dos 16 aos 18 anos. Depois da exposição dos trabalhos por todos os grupos, perguntei ao professor se era possível uma pessoa ser levada por outra a usar drogas.
- O que ele respondeu?
- Disse que era possível, mas que não isentava a pessoa do erro.
- Para mim, ele tem meia razão quando diz que é possível; porém, não desculpa a pessoa do erro; muitas vezes há falta de opção, como para estas crianças que estão pelas praças das cidades, marginalizadas pela sociedade que não pensa como orientar e sim como se livrar delas. Essas pessoas não têm opção quando tudo o que é oferecido para elas é o mundo das drogas.
- É! Ele disse algo sobre isso.
- Outras vezes, os problemas do lar levam os jovens a procurar um refúgio nas drogas. Problema como briga entre os pais, que deixam os filhos à margem da vida deles. Outras vezes são os filhos que sofrem agressões que os levam a procurar uma fuga para um mundo melhor, que acham eles, vão encontrar nas drogas. Nem todas as pessoas têm um lar como o nosso!
- Eu sei disso, mas não é bem essa a questão que eu queria. O que quero saber é se uma pessoa pode armar para que outra use drogas?
- Por que especificamente essa questão?
- Não sei dizer, só sei que é uma pergunta tem rondado minha cabeça.
- Outra hora talvez nós possamos olhar outras questões que podem levar uma pessoa a usar drogas. Mas agora, vamos ao almoço, senão vai esfriar.
Sônia e Carlos terminam o almoço em silêncio. Como mãe que conhece seu filho, Sônia fica preocupada, sabe ela que algo está errado. Pensa se seria possível que seu filho estivesse evolvido com drogas. Com essa dúvida, ela passa toda à tarde querendo, novamente, conversar com Carlos. Com medo de estar enganada e ferir os sentimentos do filho, quando colocar em dúvida sua capacidade de saber o que é certo ou errado, acha melhor deixar que Dantas leve uma conversa com ele, quando chegar do trabalho. Deste modo, pensa em ligar para ele e pedir que venha para casa mais cedo. Novamente acha que pode estar exagerando. Seu filho nunca faria nada desse tipo, recebeu uma boa educação tanto em casa como no colégio, sempre teve atenção, tanto dela como do pai, nunca teve necessidade das coisas materiais, e era muito extrovertido.
Por volta das dezenove horas Dantas entra pela porta de casa, Sônia espera sentada no sofá da sala, ansiosa por sua chegada, e logo que ele entra o chama para falar das suas dúvidas.
- Dantas, eu não quero te preocupar, mas tem algo que quero conversar com você antes que Carlos perceba que você chegou!
- Qual é o problema com Carlos? Só um problema com Carlos, para te deixar com uma cara dessas. Como se o mundo estivesse para acabar!
- Deixa de brincadeira, Dantas! O assunto é muito serio! Não é só, os problemas com Carlos que me deixam preocupada.
- Está bem! Mas tenho certeza que dessa vez é Carlos! O que ele fez ou deixou de fazer?
- Desta vez você tem razão estou realmente preocupada com Carlos. Ele anda com umas perguntas muito estranhas para meu gosto. Logo pela manhã estava a me contar que não estava com fome porque não tinha dormido direito, por motivo de uns sonhos que teve durante á noite. Ele me contou sobre o trabalho que fez durante a aula de hoje, no qual o assunto era droga. Falou sobre a exposição do professor no final da aula e sobre uma pergunta que teria feito para o seu professor. Eu, por minha vez, fiz uns comentários a respeito do assunto, mas notei que ele não estava satisfeito com a minha resposta, e nem com a do professor. Ele tinha na mente uma pergunta específica, queria saber se uma pessoa pode fazer com que outra consuma drogas. Quando questionei por que de tal pergunta, ele me deu uma resposta evasiva. Depois se trancou no quarto, e está lá até agora. Pensei em falar com ele para saber se ele está com problemas com algum amigo que esteja usado drogas. Mas fiquei com medo dele falar que o problema é com ele mesmo!
- Você está achando que o Carlos anda usando drogas? Acho que é um exagero de sua parte!
- Não estou afirmando, e nem quero pensar nisso, mas é melhor você falar com ele. Ele está estranho, isso não se pode negar, e não custa nada sondar para ficarmos tranqüilos. Não é!
- Está bem! Depois do jantar dou uma palavrinha com ele.
- Presta atenção como vai falar com ele. Sei que estamos enganados e não quero perder a confiança dele!
- Se você sabe que é um engano por que mesmo assim quer que fale? Já sei, é simplesmente para ter a certeza de estar enganada!
- Pode debochar. Vocês homens sempre acham que as mulheres exageram quando o assunto são os filhos.
Dantas e Sônia vão para o quarto do casal, Dantas toma um banho, coloca uma roupa de casa e depois, os dois voltam para a cozinha, para terminarem de preparar o jantar. Dantas tinha como diversão preparar a refeição da noite enquanto tomava uma cerveja, conversando com Sônia e Carlos. Naquela noite, Carlos nem deu por conta que seu pai havia chegado e que já estava na cozinha preparando o jantar, deixando Dantas preocupado, pois o filho sempre fez muita questão por estas horas em que eles se divertiam muito com as piadas sem graça de Dantas. Dantas olha para a Sônia, que enche os olhos de lágrimas; aflita, só de pensar na possibilidade dela ter razão quanto ao filho. Dantas respira profundamente, aproxima-se da esposa, passando a mão com carinho nos cabelos dela. Sem falar uma única palavra, palavras não se fazia preciso para demonstrar o que estavam sentido. Assim, Dantas se dirigiu para o quarto de Carlos. Apesar dos poucos passos da cozinha para o quarto, foi tempo mais que suficiente para passar pela cabeça de Dantas muitos pensamentos: “Seria possível, pensava ele, que seu filho amado estivesse fazendo uso de drogas? E se fosse? Quais seriam as drogas, como perguntar para ele uma coisa dessas, como ele poderia não ter percebido, se sempre sabia com quem o filho andava e onde estava. Deveria entrar de supetão no quarto ou bater na porta e depois entrar”. Pára na frete da porta, leva as mãos ao rosto, passando pelo cabelo e cruza os dedos atrás da nuca, como sempre fazia quando enfrentava questões de difícil solução. Fica nessa posição por uns segundos, olhando fixo para o teto. Por fim, Dantas cria coragem para entrar no quarto de Carlos. Respira profundo e bate a porta. Carlos não responde. Torna a bater. Novamente, não obtém resposta, decide entrar, gira a maçaneta da porta e entra. Dantas leva um susto quando vê o filho deitado na cama com os braços abertos, de olhar fixo para o teto. Dantas fica parado sem saber o que fazer. Esboçando uma reação, parte correndo para abraçar o filho. Carlos leva com susto, pensando que é mais uma das brincadeiras Dantas. Dantas abraça Carlos com força, sem falar uma palavra. Neste instante Carlos percebe que não se trata de mais uma das brincadeiras de Dantas.
- Pára pai! Está me machucando! – Meio embaraçado Dantas, solta Carlos, que se senta na cama, olha para o pai e tenta disfarçar o susto que acabara de ter.
- O senhor tá bem?
- Claro, filho, só estava tentado te pregar um susto!
- Que horas são?
- Oito da noite.
- Nem percebi quando o senhor chegou. Tudo bem mesmo, pai?
- Acho melhor parar de querer te enganar! Sou muito ruim de mentira! Nós estamos preocupados com suas reações de uns dias para cá!
- De que reações o senhor tá falando, pai?
- Você anda desligado, calado, pelos cantos da casa, e hoje nem percebeu que já era noite e muito menos que eu estava em casa. Tomei um susto, danado, quando te vi de olhar fixo para o teto, sem perceber que eu estava entrando no quarto!
- Ah, Pai, não é nada! Só estou cansado, acho que estou começando a ficar preocupado com o vestibular. Todo mundo que chega pra mim, fala de vestibular, que estou pegando essa “neura”!
- Tem certeza que é só preocupação com o vestibular? Ou têm outros motivos que você não quer contar?
- Não pai. Não tem um outro motivo! Por que essa dúvida? O que o senhor quer perguntar para mim?
- Meu filho, você sabe que sempre tivemos total confiança em você, e estamos muito constrangidos em fazer uma pergunta a você. Sua mãe contou-me que você fez referência a um trabalho feito na escola tendo como tema drogas, contou sobre a resposta do seu professor e da reação que você teve com a resposta dele. – Carlos escuta o pai sem entender direito por que de tal preocupação, se tudo que tinha feito era falar com a mãe sobre o trabalho do colégio da mesma forma com que sempre fazia, na hora do almoço. Dantas fita o filho nos olhos, ao mesmo tempo em que uma lágrima corre por seu rosto e com a voz trêmula faz a pergunta. – Filho, você está usando drogas? – Carlos olha assustado para o pai, pois não esperava esse tipo de pergunta. Nunca fez nada de errado que desse margem, para eles duvidarem da sua capacidade de saber o que era certo ou errado.
- Claro que não, pai!
- Tem certeza, Carlos?
- Tenho pai! Não estou entendendo porque da pergunta se o senhor sabe sempre onde estou e com quem estou!
- Eu sei Carlos, é por esse motivo que foi muito difícil falar neste assunto com você. Nunca duvidamos de você quanto ao seu bom senso. Então, diga por que de você está tão fora de tempo a ponto de não notar minha entrada no quarto?
- Tá bom! Contarei o que está se passando comigo. – Dantas aguarda a resposta do filho, calado, mas indagando dele mesmo se tendo a confirmação do filho, como agir dali para frente. Então, Carlos, começa a contar tudo que está se passando com ele.
- De umas noites para cá tenho tido sonhos estranhos, sempre com o mesmo assunto, as drogas. Nos primeiros dias não eram tão nítidos como são agora. Principalmente depois da aula de hoje. Depois do que depois do almoço deitei para descansar um pouco e dormi. Sonhei que estava em um campo muito verde e era um dia de sol brilhante, mas que não fazia calor. Era gostoso ficar deitado, era uma sensação muito boa, como se o sol nos desse muita energia. Notei que tinha mais pessoas ao meu lado, virei à cabeça para olhar, e essas pessoas eram todas jovens como eu. A grande maioria parecia ser da minha idade. Todos nós vestíamos roupas brancas. Logo estavam todos sentados nos olhando e perguntando como fomos parar naquele lugar. Nossa atenção é chamada por um senhor de cabelos brancos, com mais ou menos um metro e setenta de altura, tendo no rosto uma expressão de calma. Passava para todos nós uma segurança indescritível. Levantamos todos, seguimos até a sombra de uma grande árvore que era a única naquele local. Pois até onde eu podia enxergar só via o verde da grama que cobria tudo o chão. Nesta árvore tinha outras pessoas não tão idosas como aquele senhor, eram todas de meia idade. Fomos separados em grupos de cinco pessoas, quatro jovens e uma pessoa de meia idade, para tomar conta da gente. O senhor que parecia ser o mais velho era quem comandava a todos nós. Começamos a caminhar, e sem que nos desse por conta, percorremos uma grande distância. Até chegar-mos a um grande rio de correnteza muito forte. Cada grupo a atravessou o rio em um barco diferente. Ficamos receosos com a travessia, mas o senhor de cabelos brancos nos mostrou que era seguro, nos mostrado que apesar de toda a correnteza o barco não chegava nem a balançar com a fúria das águas. No outro lado havia grandes árvores, onde o sol não conseguia penetrar entre elas por causa da folhagem espessa. Lá nos encontramos com uma senhora de grandes cabelos negros que pareciam flutuar por entre a folhagem. Era ela que iria nos guiar pela floresta. Notei que nossas roupas não ficavam sujas com a lama que dificultava nossa caminhada. Paramos numa clareira. Fizemos um círculo, onde a senhora ficou no meio. Ela abriu os braços com as mãos voltadas para cima. Logo surgiu do meio do mato uma criatura muito estranha, que parecia ser uma pessoa, no entanto agia como um animal. Investiu para nós. Ai, senhora, disse para não nos mover, que ele não podia chegar perto da gente. Falou ainda que, não éramos as pessoas que ele desejava fazer mal. De todo que sonhei, esta é a parte que com mais clareza. É como se realmente tivesse acontecido! Tenho outro sonho que não me lembro claramente como este que contei. Neste outro, escuto pessoas gritando por socorro dentro de uma caverna. Entro para ajudar e todas as pessoas que estão lá, vêm para cima de mim. Tento sair da caverna, mas eles não deixam. Percebo que não querem me fazer mal, mesmo assim eles estão me sufocando, fico muito nervoso com aquela situação e só quero sair de lá. Não sei como, nem porque, entendo que aquelas pessoas são dependentes de drogas. Percebo que deve ser assim que um dependente se sente. Acordo em pânico, e quando estou acordado não consigo tirar isto da minha cabeça!
- Por que não contou essas coisas antes, filho?
- Ah, pai, pensei que era bobagem, que não passava de um sonho como qualquer um outro. Logo eu iria esquecer!
- Pode até ser uma bobagem! Mas deixa de ser quando começa a interferir no nosso dia a dia. Por acaso, se sua mãe não fosse tão preocupada com você, quando nós fossemos perceber algo você poderia está com outro problema mais grave. Por exemplo: obcecado por esse assunto quisesse experimentar drogas, querendo saber que efeito tem ou se correspondia com o que você sente nos sonhos. Muitos entraram no vício através de uma simples curiosidade para saber que efeito tem. Achando que são muito fortes para não ficarem viciados.
- Eu nunca tive nem uma curiosidade para experimentar drogas!
- Tudo bem! Tudo bem que você nunca teve essa vontade, mas não sabemos o dia de amanhã? Podemos de uma hora para outra estar envolvidos com pessoas que fazem uso de drogas, e diante dessas pessoas não podemos saber qual será nossa reação.
- Todo este pânico só por causa de um sonho? Não quero nem pensar se eu estivesse usando drogas!
- Tá bom! Sei que estamos exagerando! Vem cá, me dá um abraço! Desculpa filho, nossa desconfiança. Mas, são coisas de pais!
- Tá certo, pai. Está desculpado! Agora vamos jantar que estou morrendo de fome!
Dantas e Carlos deixam o quarto e vão para a cozinha onde Sônia espera por eles com muita ansiedade. Eles chegam abraçados à cozinha, conversando alegremente como se nunca tivesse pairado naquela casa alguma duvida sobre possibilidade Carlos usar drogas. Alegria dos dois Bastando para aliviar o coração de Sônia que durante todo o resto da noite não fez nem um comentário a respeito do assunto que se passará. Duas horas mais tarde, já no quarto, quando se preparavam para dormir. Sônia aproveita para tentar fazer com que Dantas, conte à conversa que teve com Carlos.
- Dantas, o que ele falou para você?
- Não acrescentou muita coisa. Só me deu a certeza que não usa drogas.
- E para você isso basta?
- Para mim, basta.
- Sobre esse súbito desligamento dele. O que ele falou?
- A mesma coisa que disse para você.
Dantas beija Sônia, dando boa noite e deita puxando o lençol para cobri-los. Mas Sônia não fica satisfeita com a resposta do marido. No seu íntimo, algo dizia que não tinha acabado por aí. Nesse instante, Carlos estava no seu quarto deitado para dormir. Estando sem sono resolve ir para o computador. Senta, liga, acessa a Internet para ver se tem algum dos amigos com quem ele costuma teclar a esta hora. Mas, ainda insatisfeito com as respostas que tivera para as suas duvidas. Resolve entrar em uma sala de bate papo. Assim que consegue acesso, pergunta se uma pessoa pode induzir outra a usar drogas. Obteve várias respostas; tendo pouca diferença de uma para outra. Mas uma em particular chamou mais sua atenção. Então, Carlos passa o seu e-mail para a pessoa que se denominava como sendo Marcos. Carlos queria aprofundar o assunto sem a interferência de mais ninguém.
- Marcos, você está aí?
- Estou!
- Gostaria de saber por que da sua resposta?
- Você fez uma pergunta e eu respondi.
- Vou repetir a mesma pergunta para nós termos um ponto de partida para que eu possa entender melhor seu ponto de vista. “Uma pessoa tem a capacidade de influenciar outra para usar drogas”?
- Novamente respondo que sim! Eu mesmo fui vítima de uma influência de pessoas que manipularam a minha vida para me fazer um usuário de drogas. – Carlos, mesmo espantado com aquela situação, mas com muita curiosidade resolve responder.
- Você foi manipulado por pessoas para usar drogas, mas conseguiu descobrir a tempo de não ficar viciado? Digo isso por que, mesmo descobrindo que foi manipulada, depois de estar viciada, acho que não se consegue deixar de fazer uso das drogas!
- Nisso você tem razão! Não descobri a tempo nem de salvar minha vida!
- O que você quer dizer com esta afirmativa?
- O que você entendeu! Perdi minha vida por causa das drogas.
- Em que sentido você perdeu sua vida? Perdeu família, amigos, emprego! E este o sentido que você que dizer?
- Não Carlos! No sentido de perder a vida mesmo. Ou melhor, morrer!
- Deixa de brincadeira! Eu te fiz uma pergunta séria e você me responde com uma brincadeira! O que pretende com isto?
- Só conversa! Sinto-me muito só! – Nesse instante Dantas levanta e vai até a cozinha tomar um copo com água, vendo a claridade que sai do quarto de Carlos, vai até lá.
- Carlos, não é mais hora de estar no computador, desliga e vai dormi!
Carlos leva um susto, por não esperar que seu pai estivesse acordado àquela hora. Sem dizer uma palavra desliga o computador e vai dormi. Pela manhã, mais cedo do que de costume, Carlos acorda demonstrando estar bem disposto. Como sempre, senta à mesa para tomar o seu café conversando alegremente com sua mãe. Dantas estava de saída para o trabalho, fala com Sônia dando-lhe um abraço e dirigi-se até a porta. Carlos levanta da mesa correndo, parando o pai na porta.
- Pai! Tem uma carona hoje?
- Não senhor, nem pense nisso, estou atrasado.
- Todo dia o senhor fala a mesma coisa, só que hoje não tem jeito de escapar de dar minha carona. – Sônia olha para Dantas dando uma piscadela de olho, como se falasse para ele dá a carona.
- Está certo! Assim, aproveitamos para colocar os assuntos de homem em dia, bem longe da sua mãe.
- Quer dizer que meus rapazes têm segredos para comentar?
Dantas e Carlos sorriem, descendo a pequena escada na frente da casa, e depois entram no carro. Sônia olha o carro que desse a rua para logo sumir na esquina. Entrado em casa, vem àquela sensação de desconforto por achar que o assunto da noite anterior não tinha ficado bem explicado. Conhecia muito bem Dantas e Carlos. Sentia que eles estavam escondendo algo. Mas não sabia o que.
O dia corre tranqüilo para todos, que cumprem a mesma rotina dos outros dias. Com uma exceção, logo que os pais dormem Carlos acessa a Internet de imediato, recebendo um e-mail de Marcos.
- Ai Carlos! Podemos trocar umas idéias?
- Podemos. Só que, desta vez, sem brincadeiras.
- A que você está se referindo?
- Estou me referindo à resposta que você me deu. Tenho muito interesse em ter uma resposta séria. E você me diz que não conseguiu descobrir a tempo de salvar sua vida! Que morreu por causa das drogas!
- Não estava brincado, disse a verdade.
- Quer dizer que você está morto? – Carlos espera uns minutos, não obtém resposta, levanta da cadeira, deita na cama e fica olhando para a tela do monitor, falando o que estava pensando. – Devo está ficando doido. Não é a toa que meus pais pensaram que eu estava usando drogas. – Carlos levanta da cama para desligar o computador e vê que tinha uma resposta.
- Acredite, realmente estou morto! Você não sabe como estaria se usasse drogas. – Carlos lê a frase e tem um grande susto, senta na cadeira rapidamente, querendo digitar uma palavra para saber à resposta que teria, não conseguindo de tão nervoso. Pára, respira fundo e escreve.
- Como você sabe o que falei? Você pode me escutar?
- Não Carlos! Não estou te escutando!
- Você pode escutar o que falo?
- Talvez só coincidência, ou não!
- Meu microfone está aberto?
- Não.
- Quem realmente é você?
- Marcos, o mesmo da noite passada.
- Está bem, Marcos, conseguiu me dá um susto.
- Não quero te assustar, meu nome é realmente Marcos e não estou brincando com você!
Carlos conhece varias histórias onde malucos se comunicavam com suas vitimas pela internet. E que estas histórias não acabaram bem. Sente um frio na espinha, por pensar que Marcos poderia ser mais um destes malucos. Sai do quarto correndo para o quarto dos seus pais, entrando de ponta de pé para não acordar os mesmos, e não ter que explicar o motivo de estar no quarto deles. Deitando num sofá que fica perto da porta. Logo ao nascer do sol, volta para seu quarto, ainda com receio da reação dos seus pais ao descobrirem que ele tinha dormido no sofá do quarto deles. Então Resolve não contar nada para eles. Ao voltar para o seu quarto Carlos, verifica que novamente tinha esquecido o computador ligado. Isto era algo que ele fazia sempre.
Já na escola, Carlos conversava com Ivan, um dos muitos amigos que ele tem. Por serem amigos de infância, Carlos sempre contava a ele coisas de sua vida. E naquele dia não foi diferente, conta para Ivan o que havia acontecido á noite passada. Carlos sabia que poderia confiar nele por também conhecer muitos dos segredos os quais, nunca falou para ninguém. O que proporcionou essa amizade foi à proximidade das suas casas. Ocasionando eles fosse estudar na mesma escola. Ivan era o primeiro filho de um casal divorciado, morava com sua mãe e seus dois irmãos na casa dos avós.
- Ai meu irmão, vai ver que era só alguém te pregando uma peça?
- Pode ate ser! Mas não deixa de ser sinistro! Tem tanta história doida por ai!
- “Pô” maninho, tu é muito “bundão”! Sair correndo para o quarto do paizinho com medo de um computador!
- Queria que fosse com você, para ver se tinha essa marra toda!
Mudam de assunto quando se aproximam outros amigos que estudavam na mesma sala. Ivan não tinha um bom relacionamento com alguns deles, sempre preferia sair de perto de onde eles estavam para evitar confusões. Ele estivera para ser expulso da escola por duas vezes neste mesmo ano. Mais uma confusão o faria perder o ano, e como conseqüência perder o vestibular. Para Carlos, todos eram bons companheiros, nunca tivera atritos com nenhum deles. Mesmo assim, tinha que se esforça para contornar certas situações em que tinha de tomar partido. Sempre tivera consideração por Ivan, mesmo sabendo do seu instinto agressivo, tornando muito difícil sua participação nos esportes e no relacionamento com os outros rapazes da sua sala de aula. Os outros amigos de Carlos sempre o questionavam sua amizade com Ivan. Por eles não terem as mesmas afinidades nem nos esportes. Carlos praticava caratê desde os seus dez anos, gostava de jogar futebol. Mas Carlos conhecia as dificuldades familiares de Ivan, desde a separação de seus pais e suas reações. Isto causou uma revolta por pensar ser ele causa da separação dos seus pais. Por estes motivos, Carlos sempre que podia o convidava para ficar na sua casa. Os convites de Carlos muitas vezes tiveram um efeito contrário ao que ele desejava, é que Ivan, vendo a felicidade da família do amigo, ficava ainda mais revoltado a ponto de fazer pequenos furtos para poder chamar a atenção dos pais para ele e seus irmãos. Ivan tinha um raciocínio além da média dos outros alunos o que compensava sua falta de interesse pelos estudos. Estando no meio do ano letivo, todos os alunos estavam empenhados nos estudos visando o vestibular, e isto fez Ivan afastar-se ainda mais dos amigos. Carlos quer continuar a conversa com Ivan, mas ele já está saindo de perto da turma.
- Carlos, nós estamos planejando um grupo de estudos para o fim de semana.
- Onde vai ser?
- Aqui mesmo, no colégio.
- Quem é que vem?
- Todos da turma, menos Ivan, com certeza!
- Avisaram a ele?
- Ainda não, mas tenho certeza que ele não vem.
- Como sabem, sem o chamar?
- É que depois da aula pensamos em jogar um salão, e você sabe, ultimamente todas as vezes que ele participa das peladas, sai confusão. – Carlos não aprovou deixar o amigo de fora, mas eles estavam com a razão. Realmente Ivan estava muito mais distante da turma do colégio. Outro dia, Carlos o avistara com uma turma de rapazes que ele não conhecia; todos tendo certo ar de rebeldia, como Ivan.
- Então Carlos, você vem? Ou não vem?
- Podem contar comigo! Estou nessa!
- Sábado, ás oito da manhã. Paramos de meio dia. Fazemos um lanche e voltamos para a sala até as três. Aí, depois é só bola.
Não era a primeira vez que a turma de Carlos organizava um grupo de estudos. Este era um programa que tinha o incentivo da coordenação da escola, tendo à frente há figura de dona Cintia. Uma senhora de uns cinqüenta anos, os quais quinze, na coordenação. Ela conhecia todos os alunos da escola, sempre poderia ser encontrada em conversas animadas no pátio. Oportunidade que não dispensava para poder observar os alunos de perto. Tinha uma especial atenção para com alunos do terceiro ano. Quando os alunos das outras séries se queixavam, ela dizia que o 3º ano representava todo o fechamento dos trabalhos da escola no ano. Por este motivo, ela sempre estava presente nos sábados, podendo observar o tipo de dificuldade que cada aluno tem, e sempre que possível procurava uma forma de ajudar. Ela mantinha uma única imposição para liberar o espaço para o estudo. Era que cada grupo fosse composto de no mínimo, quinze alunos, sendo somente de rapaz ou de moças. O que sempre causava uma grande discussão em torno do tema, logo contornada com uma resposta irreverente.
Na saída da escola, Carlos espera por Ivan, para irem juntos para casa. Carlos não achou correto deixar o amigo fora do esquema do fim de semana. Queria tentar convence-lo a participar.
- Ivan!
- Diz aí!
- Estava te esperando pra gente trocar uma idéia no caminho. É que não terminamos de falar daquela parada do computador!
- “Desencuca” mane, vai ver era mesmo uma brincadeira de alguém!
- E se não for brincadeira! Se o cara tiver morto mesmo!
- Agora, só falta você acreditar em comunicação com os mortos.
- Claro que não acredito nisto! Mas é de pensar!
- Então, esquece. Já não tá mais aqui quem falou! – Carlos e Ivan caminhavam pela calçada da escola, parando na esquina, para esperar os carros passarem e poderem atravessar a rua. Encostado numa árvore tem um garoto que chama a atenção de Carlos, assim que Ivan o vê pede para Carlos seguir e caminha na direção do garoto.
- Ivan espera! Tem “aulão” no fim da semana!
- Nem pergunte. Você sabe que não vou!
- Olha o vestibular...
- Não preciso de sermão, e você sabe que o vestibular já tá no papo.
Enquanto Carlos atravessa a rua, observa que outras pessoas falam rapidamente com o garoto e se afastam com alguma coisa na mão e só Ivan permanece conversando com ele. Carlos sabia que aquele local era um ponto de vedas de drogas, mas Ivan parecia não estar preocupado com isto.
Entrando em casa, Carlos vai para a cozinha tomar um pouco de água para refrescar e escuta a porta de entrada bater, Sônia que estava entrando, vindo do supermercado.
- Oi, filho! Está pensativo?
- Não, só com fome.
- Acabei de encontrar Ivan com uns amigos lá na praça. Acho que não eram da escola de vocês.
- Ivan tá saindo com pessoas que não conheço.
- Então é por esse motivo que ele não vem mais aqui? Pensei que vocês tivessem brigado. Ele sumiu de repente.
Carlos evita continuar falando de Ivan, sabia ele que era uma das estratégias de sua mãe para saber sobre o que estava acontecendo com seus amigos, e assim poder sempre estar um passo à frente de algum problema que viesse interferir na sua vida.
No sábado, como marcado, os amigos de Carlos se reúnem depois da aula para começar o jogo. Dona Cintia entra no ginásio chama Carlos para ir à sua sala.
- Carlos, você pode me dar um minuto do seu tempo. Estou precisando ter uma conversa com você!
- Agora dona Cintia?
- Nesse exato instante, na minha sala, por favor!
- Algum problema Carlos?
- Eu que vou saber?
Carlos segue Dona Cintia até sua sala, com muita curiosidade para saber qual seria o problema. Ela só chamava alguém a sua sala quando o assunto não podia ser tratado na presença de outras pessoas. Entrando na sala, Carlos e dona Cintia sentam-se.
- Carlos, eu sei que você é o melhor amigo de Ivan, e que mesmo pressionado por todos de sua sala não deixa de fazer companhia para ele, aqui, na escola. Eu estou muito preocupada com o comportamento dele, esperava eu que ele hoje estivesse aqui, com os outros da sua turma, espero que você possa me dizer o que está acontecendo com ele?
- O que eu poderia dizer que a senhora não saiba?
- Tudo que sei é do portão para dentro da escola, mas você pode dizer algo do portão para fora, não quero te fazer um dedo duro, minha função aqui não é só de coordenar os professores, é também de estender a escola além dos portões e cada um de vocês, que hoje estuda nesta escola, é a extensão para o mundo.
- Desculpa dona Cintia. Mas não tenho nada para dizer!
- Eu compreendo Carlos, você só está querendo proteger seu amigo, mas não é ocultando os problemas dele que irá ajudar!
- Ivan mudou muito de uns meses para cá, dona Cintia. Antes ele pensava que o mundo era um lugar onde a felicidade não era feita para todos, mesmo assim fazia um esforço para poder entender essa desigualdade entre as pessoas. Agora, parece que criou um mundo particular, onde as pessoas que não pensam igual a ele não existem.
- Entendo Carlos, infelizmente não é a primeira vez que vejo esse tipo de atitude.
- E como à senhora pode ajudar?
- Geralmente, estas pessoas criam uma barreira entre eles e todos que, pensam eles, querem saber mais que eles. Ficando muito difícil para qualquer pessoa com uma função, como pai, mãe, professor, irmão ou outro parente. Tem alguma chance de chegar até eles, os amigos que estejam na mesma faixa de idade, por terem acesso a todos os lugares que freqüenta. Sabe do que estou falando, Carlos?
- Sei, Ivan pode estar usando drogas!
- Ivan não é o primeiro a passar por esta situação, nem será o último. Durante os meus quinze anos de coordenação tenho um grande empenho para manter esta praga longe desta escola, obtive umas vitórias, mas tenho amargado muitas derrotas. Poucos têm um amigo como você que está preocupado em poder ajudar. Geralmente há uma debandada geral por parte dos amigos, fazendo com que estes procurem ainda mais os que tenham as mesmas tendências. Acho que é tudo por hoje, Carlos.
Carlos sai da sala de dona Cintia e volta para o ginásio. Os amigos estavam curiosos para saber o motivo da sua ida para o calvário. Calvário era o nome dado para a sala de dona Cíntia.
- Carlos, diz aí! Qual era a de dona Cintia?
- Sai dessa, Cleber! “Tu é” muito curioso!
- Com você sei que não é!
- Por que não?
- Tô pra ver um cara como você! Todo certinho!
- Por que sou calmo não significa que não tenho problemas! Pode ser muito bem comigo, pode ou não pode!
- Ai Carlos, quer entra ai, eu to “pregadão”!
- Quero!
- Tá limpo. Não precisa passar esponja!
Carlos entra no jogo rapidamente para não ter que continuar a conversa com Cleber, ele tinha a certeza que Cleber estava querendo saber se era a respeito de Ivan o motivo da sua ida para o calvário. Cleber e Ivan nunca se deram bem. Ivan, nos outros anos estudara numa outra turma, mantendo os dois um pouco afastados, agora eles estavam na mesma sala, este encontro ocasionou as duas advertências recebidas por Ivan. No começo da noite, os amigos se despedem na entrada do colégio. Carlos caminha pensativo pela calçada. Antes de ir para casa passa na casa de Ivan, querendo conversar com o amigo. Pára em frente ao portão, toca a campainha e aguarda. Vera, mãe de Ivan, vem atender a porta.
- Boa noite, Dona Vera! O Ivan está?
- Não, Carlos! Não está! Eu pensava que ele poderia estar com você! Saiu dizendo que ia para a escola. – Carlos pensa em mentir para a mãe de Ivan, mais lembra da conversa com dona Cintia.
- Eu não o vi na escola.
- Estava desconfiada que ele não fosse para a escola. Ele saiu daqui com uns rapazes que não estudam com vocês. Estou muito preocupada com Ivan, Carlos.
- Quando ele chegar pede para ele dá um pulo lá em casa!
- Vai depender da hora que ele chegar. Coisa que ultimamente não está sendo muito cedo!
- Até logo, dona Vera.
Sem saber o que fazer, Carlos segue para casa. Horas mais tarde, tomado de curiosidade. Estando novamente no seu quarto, liga o computador e acessa a Internet. Como era sábado, ele poderia estender a comunicação com Marcos. Apesar de já está achado que esta história não passava de brincadeira. Mas curioso para saber por que de uma brincadeira com um assunto tão sério. Assim que a conexão foi concluída entra rapidamente na comunicação com Marcos.
- Boa noite, Carlos! Como tem passado seus dias?
- Boa noite, Marcos! Ando preocupado com um amigo!
- O que o seu amigo tem feito para te deixar preocupado?
- Ando desconfiado que ele esteja usando drogas. E não sei como posso ajudá-lo.
- É simples: Não deixe de ser seu amigo!
- Estou tentando. Mas ele anda cada vez mais distante.
- Carlos, a droga tira da pessoa o poder de raciocinar. O amigo verdadeiro não é aquele que espera ser correspondido. Porem o que sabe aguardar o tempo certo de poder ajudar. Vou te contar a pequena história, que foi minha vida. Assim, você entenderá que talvez, se eu tivesse um amigo com que eu pudesse contar, não teria morrido por overdose.
- Lá vem você com esta conversa de que tá morto!
- Não estou brincado. Meu pai pensa que me suicidei!
- Se você está morto, como pode me contar sua história? – Carlos resolve levar a conversa para saber qual era a de Marcos. Se bem que ele não estava acreditando nessa história dele estar morto. Já tinha escutado várias histórias de gente morta que se comunicava com os vivos, mas nenhuma que fosse através de um computador.
- Pára de prestar atenção na televisão!
- Desculpe! – Carlos tinha a mania de ligar a televisão enquanto estava no computador. Mas logo cai na real, levando outro susto.
- Como sabe que eu estava olhando para a televisão?
- Para poder explicar, demoraria muito, e não temos tempo.
- Por que seus pais pensam que se suicidou?
- Para dizer que não me suicidei é preciso mostrar meu ponto de vista! Eu fui o terceiro filho de um casal de classe média que vivia para o trabalho. Eu, como filho mais novo, sempre tinham mais cuidados comigo. Meus irmãos nunca tiveram muita afeição por mim. Meus pais nunca desconfiaram de nada. Digo melhor, meus irmãos me odiavam. Achavam que por minha causa meus pais os teria abandonado. Quando éramos pequenos sempre que estávamos a sós, faziam de tudo para me machucar e parecer um acidente. Desta forma, foram vários acidentes sem explicação. Meus pais nunca desconfiaram de nada, passaram a achar que eu tinha problemas de personalidade, assim passaram a trabalhar muito mais para poder me levar para médicos que nunca conseguiam resolver os meus problemas. Os acidentes continuavam a acontecer e assim crescemos. Meus irmãos passaram a ter mais raiva, sempre me culpando de terem sido abandonados por nossos pais. Certa tarde, que estávamos a sós, foi quando tudo começou a piorar, meus irmãos, um casal de gêmeos bi-vitelinos, na época eles tinha 16 anos de idade. Eu com dois anos a menos que eles. Pela diferença de idade e pela dificuldade que tinha para falar, era difícil para mim me expressar, pois tinha um problema de dicção, isso me deixava muito introvertido. Certo dia, eles entraram exaltados em casa, correram para o quarto. Depois de horas trancados, fiquei curioso para saber o que eles estavam fazendo, bati na porta pedindo para entrar, não me responderam. Corri para a janela do quarto deles que dava para o quintal e vi que eles estavam fumando alguma coisa que não dava para saber o que era. Eles estavam sentados no chão, pareciam fora do tempo, a ponto de não perceberem que eu pulara a janela. Ficaram assustados quando perceberam que eu estava dentro do quarto, pois estavam usando drogas. O meu grande erro foi saber disso. Como nós passávamos os dias sós, meus pais não se interessavam com que eles faziam deste que tomassem conta de mim. Deste dia para frente por qualquer motivo eles me batiam. Por tudo eles me batiam, foi desta forma ate quando completei 15 anos. Não presenciei mais meus irmãos usando drogas, mas eu sabia que usavam escondidos de mim. Estavam cada vez mais estranhos, era como se o ódio quem tinham de mim aumentasse a dada dia. Começaram a falar que seria bom que eu tivesse morrido. Acho que isso foi o que os levou a pensar neste fato. Começaram a planejar como fariam para que minha morte se consumasse. Tudo tinha que parecer um suicídio. Planejaram trazer drogas para casa e fazer com que eu usasse. Pararam de me perseguir. Ficaram meus amigos, pois assim eu estaria sempre por perto deles e eu fiquei feliz com isto. Usavam drogas na minha presença para poderem me oferecer. Uma vez por semana eles levavam droga para casa, começaram com a maconha, que é bem mais leve, mas nem por isto deixa de viciar. Eu estava muito alegre por poder estar com eles, de poder senti-los como irmãos, não queria me sentir rejeitado de novo, não coloquei nenhum obstáculo para começar a fumar a maconha, logo os dias de uso aumentaram, passando para dois, depois três. Em um desses dias, trouxeram cocaína, mas eu não quis usar. Eles não ficaram com raiva, não falaram nada. Eu por minha vez, fiquei com medo deles não me quererem por perto e quando eles não estavam fui para quarto e usei a cocaína. Não tive, mas controle a partir daquele dia. Durante meses meus irmãos traziam drogas para casa, algumas vezes era maconha, outras, cocaína e crac. Já estava tão viciado que não percebia que eles não usavam drogas como eu, pois quanto mais deixassem para min, era melhor. De uma hora para outra, deixaram de trazer as drogas, falaram que estavam sem dinheiro, que nossos pais estavam desconfiados que estivéssemos fazendo uso de drogas. Passei a pedir dinheiro aos meus pais e quando eles diziam que não tinha, eu ficava irritado, não conseguia parar de pensar em algo que não fosse droga. Por este motivo, sempre estava discutindo com meus pais, que não viam mais aquele garoto calmo que nunca se irritava com nada. Nossas discussões acabavam comigo, indo para rua me encontrar com uns amigos que, também, estavam fazendo uso de drogas como eu. Meus irmãos, nessa altura, passaram a ficar mais tempo em casa com meus pais, sempre o assunto fazia referência à minha pessoa, sempre falavam que eu estava fazendo uso de drogas. Das pessoas com quem eu andava, mas quando estávamos a sós, diziam que estavam comigo e que nossos pais, não entendiam nada sobre ser jovem e sobre fazer a cabeça. Eu já não voltava para casa todos os dias, não assistia às aulas, quando chegava a ir para o colégio. Meus pais estavam perturbados por não terem como me tirar desse caminho. Tentaram dar-me mais carinho, porque estavam se sentindo culpados do meu estado. Meus irmãos, diante desta atitude de meus pais, ficaram ainda com mais raiva de mim, achavam eles que, mesmo eu estando drogado, sempre a discutir, mesmo assim eles davam mais carinho e amor para mim. Então decidiram que estava na hora de acabar com a minha vida, pois no estágio que eu estava ninguém desconfiaria de nada, todos pensariam que teria sido uma overdose. Planejaram como seria a maneira para me fazer usar uma grande quantidade de uma droga pesada que fosse fatal. Certo dia, Meus pais tiveram que fazer uma viagem inesperada, por motivo de falecimento de um parente distante. Virão que tinham aí uma boa chance para realizarem o plano. Nem bem meus pais viajaram deram início à realização do plano. Pegaram uns objetos para vender e poder comprar as drogas. Eu, por minha vez, não sabia da viagem de meus pais, pois fazia três dias que não aparecia em casa. Meus irmãos sabiam onde poderiam me encontrar. Eu estava mal, há dois dias que não dormia. Disseram que estavam muito preocupados comigo, que nossos pais não paravam de falar, o quanto estavam tristes por não conseguirem tirar-me do domínio das drogas, que eles me amavam. Sem entender muito bem, mas acreditando neles, fui para casa. Logo que chegamos me levaram para o quarto, como eu estava sem dormi, cai num sono profundo. Ao acordar eles tinham saído de casa, eu estava meio desnorteado, não sabia como tinha chegado em casa. Todas as portas estavam trancadas, fiquei muito inquieto, voltando para o quarto, vi em cima da cama um pacote que continha cocaína e pedras de craque. Não tinha certeza se teria sido eu que teria trazido àquelas drogas, de alguma forma lembrei das palavras de meus irmãos, fiquei muito deprimido, neste momento não deu para resistir ao apelo das drogas. Drogas e depressão; Mistura perfeita para acabar com a vida de alguém. Nos momentos que seguiram dor e desespero e o fim.
- Sua pequena história é interessante. Mas fantasiosa! Não acredito quando você diz que está. Não é possível que depois de morto se possa usar um computador. Mesmo assim, acho que você deve ter algum motivo para contar tudo isto. Posso saber por quê?
- Preciso da sua ajuda!
- Como eu poderia te ajudar?
- Toda ajuda que quero, é que você divulgue esta história. Para que através desta pequena história, outras pessoas abram os olhos para identificar quando seus filhos estão fazendo uso de drogas. Assim por seu Intermédio poder ajudar outras pessoas, que estão no mesmo caminho trilhado por mim.
- Como poderei fazer isto?
- No tempo certo você saberá como fazer!
- Tenho que desligar. Já é tarde. – Carlos desliga o computador para dormir, mas não consegue pegar no sono, seu dia foi muito agitado causando certo frenesi que o deixava acordado.
Logo pela manhã, Carlos procura Ivan, queria trocar umas idéias com ele. Para isso usaria como desculpa esta precisando de uma ajuda para realizar um conserto na sua bicicleta. Estando parado, em frente ao portão da casa de Ivan, toca a campainha. O avô de Ivan vem para abrir o portão e diz que o Ivan não dormiu em casa. Neste momento Ivan, demonstrando estar totalmente embriagado vai chegando em casa, aproximando-se de Carlos.
- Diga aí meu irmão! O que te trás por estas bandas, cansou dos teus amigos “mane”?
- Diz Ivan! Parece que noitada foi quente?
- Mais quente impossível! Botei pra quebrar!
- Aí, ia te chamar para me dá uma força num parada minha.
- Acho que tá ruim para dá uma força.
- Tá vendo, Carlos como este rapaz chega em casa? Já está virando uma rotina, agora todo fim de semana é isso!
- Ah, “vô”, vai começar o sermão. Deixa primeiro entrar em casa. – O avô de Ivan estava em pé junto portão falando quando, retrucando, Ivan tenta passar por ele. De tão bêbado que estava, esbarra no avô, que de idade avançada já não tem muito equilíbrio e cai batendo a cabeça numa quina do muro, ficando desacordado. Rapidamente, Carlos corre para socorrê-lo. Ao tentar movê-lo observa uma mancha de sangue no chão. Carlos grita por socorro enquanto Ivan permanece imóvel.
- Dona Vera, dona Vera! – Ao escutar os gritos de Carlos, Vera e os irmãos de Ivan, saem correndo para saber qual o motivo de tanta gritaria. Passando pela porta da frente, vem Carlos tentando erguer seu Hélio.
- Carlos, pelo amor de Deus, o que aconteceu?
- Um acidente!
- Como, um acidente?
- Vamos primeiro socorrer seu Hélio. – Vera olha para o Ivan que mal consegue ficar de pé balbuciando palavras que ela não entende direito. Carlos entra com Hélio no colo para a casa e o coloca no sofá da sala. Enquanto Vera procura a chave do carro para ir a um pronto socorro.
- Não foi minha culpa!
- Como não foi sua culpa? O que você tem com isso? Vamos Ivan, responde logo?
- Calma dona Vera, eu posso explicar tudo.
- Carlos, não venha defender este irresponsável!
- Não foi culpa do Ivan, dona Vera.
- Depois agente vê quem foi o culpado. Agora vamos levar papai para o médico. Você ajuda Carlos?
- Claro!
- Vocês dois tomem conta de sua avó! E não deixem este, este... sair de casa, nem que seja preciso amarrá-lo! – Carlos, com a ajuda dos irmãos de Ivan leva Hélio nos braços, e seguem Vera para o carro.
No hospital, depois do atendimento do senhor Hélio, Carlos e Vera estão conversando. Aproxima-se deles o médico que fizera o atendimento há Hélio.
- A senhora é a acompanhante do senhor Hélio?
- Sim! Sou eu mesma!
- Foram feitos todos os exames e não foi constatado nada de grave.
- Graças a Deus!
- Mesmo assim, ele precisa ficar em observação por algumas horas enquanto toma soro.
- Muito obrigado doutor.
- Desculpe a pergunta, mas é norma do hospital quando da entrada um idosos ou crianças sabermos o que ocasionou o acidente. – Vera fica sem saber o que dizer por não ter visto o que aconteceu. Quando Carlos toma a frente, mais não fala o que realmente aconteceu. Pensa ele que, naquele momento Ivan precisa muito mais de uma ajuda do que uma acusação. O médico termina de preencher o relatório e afasta-se. Esperando que o médico esteja numa distância segura para não escutar pergunta que ela faria a Carlos. Vera respira profundamente e interroga Carlos sobre como teria acontecido o acidente.
- Carlos, Como realmente foi que papai caiu?
- Ele estava em pé junto ao portão, brigando com Ivan por causa da hora que ele estava chegado, quando Ivan pediu para ele deixar o sermão para quando eles entrassem. Foi passar por ele para entrar. Não sei como ele esbarrou em seu Hélio, que caiu batendo a cabeça. Ivan não teve a intenção de machucá-lo!
- Carlos, eu sei que Ivan é seu amigo desde criança, e que por muitas vezes você o protegeu. Agora, Carlos, vocês não são mais crianças, cada um tem que assumir seus próprios atos; talvez dessa forma possamos trazer Ivan de volta para a realidade.
- Desta vez não estou protegendo Ivan! Foi isso mesmo que aconteceu. Tenho certeza que não teve a intenção de machucar Seu Hélio!
- Olha Carlos, talvez por você se jovem, não entenda que mesmo sem uma pessoa não tem a intenção machucar alguém, e comete um ato que possa ferir outra pessoa, sem medir as atitudes que levaram a tal ato, de modo indireto, ele não pode eximir-se de que não teve a intenção. Ele sabia que seu ato poderia machucar papai, mas não quis pensar nas conseqüências daquilo que ia fazer!
- Não estou entendendo ponto de vista da senhora!
- Quando as pessoas fazem alguma coisa, seja lá o que for que possam ferir uma outra, tanto física como moralmente, sem pensar nas conseqüências, está querendo machucar pessoas à sua volta, tornado-se culpado por todo dano que sua inconseqüência causa, mesmo sem ter a consciência plena desse fato!
- Compreendo o que a senhora está dizendo.
- É muito duro para uma mãe falar assim! Mas tenho que pensar também nos meus outros dois filhos e nos meus pais que estão numa idade muito avançada para poderem suportar um jovem com problemas de auto-afirmação. É melhor te levar para casa, teus pais devem estar preocupados com sua demora.
Realmente, Carlos não havia dito para onde ele iria quando saiu, deixando seus pais preocupados com a demora. Dantas acabara de estacionar o carro em frente à casa de Ivan, no momento que Carlos e Vera estavam chegando. Dantas, muito assustado, corre para o carro imaginando que algum acidente teria acontecido com Carlos.
- Vera, o que aconteceu?
- Nada de mias! Só um pequeno acidente!
- Com Carlos?
- Não, com papai!
- Desculpe meu nervosismo! Com a demora de Carlos, sai atrás dele, não o encontrando, fiquei nervoso e resolvi saber se ele teria passado na sua casa! Pelo visto, Sônia estava enganada!
- Enganada em que, Dantas?
- Nada não Vera, deixa para lá! Besteira minha! Vamos Carlos, você tem muito que explicar para sua mãe. Ela está uma fera com você!
- Muito obrigada, Carlos pela sua ajuda!
- Não foi nada, dona Vera.
- Um bom final de domingo para vocês.
- Para você também, Vera.
Dantas e Carlos seguem para casa conversando calmamente sobre o que tinha acontecido com Hélio e Ivan. Carlos também aproveita para falar o que estava acontecendo com Ivan. Esperando o apoio do pai naquilo que ele estava pensando fazer, que é ajudar o amigo para que ele deixe de usar drogas. Dantas não acha correta a maneira com que Carlos estava se preocupando com o amigo. Ele próprio tem medo que uma proximidade tão grande com as drogas, possa levá-lo a ser um usuário.
- Carlos, eu sei que Ivan é seu amigo desde que vocês eram pequenos. Eu mesmo também tive amigos assim. Mas chega a hora que cada um segue o caminho que escolheu. Acho que neste momento você tem que parar para pensar mais na sua própria vida. Este é o último ano do colegial. O vestibular está na porta, e você deve procurar amigos que tenham a mesma vontade de passar no vestibular, como você tem! Apesar deu gostar de Ivan, mas o caminho que ele escolheu, não tem volta. Uma vez que se usa tal coisa, não se consegue deixar tão facilmente. É necessário um tratamento logo e penoso. Não é você que com uma simples conversa vá conseguir isto. Então filho, esqueça disso se preocupe com seu futuro seu amigo escolheu o dele!
Quando Dantas começou a falar com uma entonação de voz mais forte, Carlos tratou de ficar calado, sabia que qualquer argumento que ele tentasse usar seria rejeitado por Dantas. Naquele instante Dantas estava a refletindo como pai que estava preocupado com o futuro do filho. Carlos sabia que ainda teria que escutar Sônia argumentar sobre a maneira dele agir com os problemas de Ivan.
Quando entram em casa, Sônia não espera para saber do acontecido, entrando logo com o costumeiro argumento usado para deixar Carlos sob seu controle.
- Agora mocinho, deu para sumir sem nem uma preocupação com seus pais. Esqueceu que só temos você, se alguma coisa lhe acontece o que vamos fazer?
- Calma, Sônia, não precisa de tanto espanto. Carlos só estava fazendo uma boa ação!
- Uma boa ação?
- Deixa pai, eu explico pai.
- É bom mesmo que seja uma boa ação, mas que seja muito boa! Para justificar toda nossa preocupação que você me fez passar, Carlos! – Novamente, Carlos, conta o que acontecido com Hélio, só não conta quem provocou o acidente.
- Tudo bem Carlos, que sua demora tenha sido por estar ajudando a socorrer Seu Hélio! Agora o que quero saber era o que o senhor estava fazendo na casa do Ivan àquela hora da manhã?
- Fui até lá para saber se Ivan queria passar uma matéria comigo.
- Carlos deixa de conversa mole! Eu sei tão bem quanto você, que Ivan não esta nem aí para estudar. Então, é melhor contar a verdade. – Carlos fica admirado com a maneira que Sônia falava. Pareceu para ele que ela sabia de tudo que estava acontecendo com Ivan. – Sou sua mãe, Carlos! Melhor que ninguém, sei quando algo anda saindo errado. Tenho conversado com a coordenadora do colégio sobre as preocupações que você tem me dado! Ela me contou sobre os problemas que Ivan tem causado, e que você sempre procura defendê-lo perante os outros alunos. Mas até boas ações tem limite! Eu quero que a partir de hoje o senhor deixe de tentar ajudar Ivan. Fui bem clara!
- Sua mãe tem razão. Você ainda não tem condições de avaliar como é difícil ajudar uma pessoa quando ela não quer ser ajudada.
- Pai, Ivan é meu amigo! Como eu poderei ficar numa boa, sabendo que o meu melhor amigo tem problemas, e todas as pessoas a minha volta dizem para eu me afastar dele!
- Entenda Carlos. O que queremos é apenas te proteger!
- Proteger-me, de que ou de quem? Todo tempo eu aceito o que vocês falam. Nunca coloquei nenhuma objeção na maneira como vocês conduzem minha vida. Na primeira vez que tenho minha própria opinião, ela não é aceita por fugir do conceito de tranqüilidade que vocês têm!
- Tá vendo, você nunca nos respondeu dessa maneira! Essa é a boa influência que Ivan pode lhe dar?
- Pára com isso, mãe! Não é Ivan que está falando, não! Sou eu, mãe. Carlos, seu filho! – Carlos, sendo filho único era normal que Dantas e Sônia tentassem protegê-lo de todas as formas possíveis. Carlos, naquele momento, estava tentando dizer para eles que o culpado por suas palavras não era Ivan e sim eles próprios. Em conversas nas rodas de amigos, Carlos sempre escutara comentários como os pais transferem os erros dos filhos para outras pessoas, era isto mesmo que ele estava vendo seus pais fazerem.
- Chega por hoje deste assunto! Vá para seu quarto Carlos. – Carlos rapidamente levanta da cadeira sem falar uma palavra. Mas Sônia não se conforma com a resposta que Carlos havia lhe dado.
- Você escutou o que ele disse?
- Claro que escutei Sônia. Eu estava, aqui, lembra?
- Deixa de brincadeira, Dantas! Eu sei muito bem que você estava aqui! E por causa dessa sua falta de firmeza com Carlos, que hoje ele está querendo engrossar o pescoço!
- Agora eu também sou culpado pelo desabafo dele?
- Chama a maneira que ele me respondeu de um desabafo?
- Minha querida esposa, você está não está sendo muito radical com ele. O menino vive sufocado com você o tempo todo atrás dele. Só está querendo respirar. E você não dá espaço para ele. Sempre querendo saber com quem ele anda. Quais sãos os nomes dos amigos, com a intenção de depois saber o comportamento deles no colégio. Se não for um bom aluno não ser para amigo dele. Carlos é praticamente um homem formado, você ainda o trata como criança.
- Carlos é nosso único filho, nós temos à obrigação de protegê-lo de possíveis desilusões na vida!
- Falou muito bem! Carlos é, e sempre será nosso único filho. Mas isso não foi uma opção dele e sim nossa. Você está agindo como se ele tivesse feito à escolha de ser filho único. Todas as pessoas têm o direito de errar, isso faz parte de um aprendizado que nos prepara para a vida, na qual, ele um dia estará sem a nossa ajuda.
- Agora, é você que está exagerando!
- Eu, exagerando! Lembra daquela menina que estava de namorinho com Carlos? Como é mesmo o nome dela?
- Carla!
- Olha só a maneira como você diz o nome da menina. Carla! Parece que a menina é a pior pessoa do mundo só porque estava namorando o filhinho da mamãe!
- Você acha que eu ajo mesmo dessa forma?
- Eu, achar? Não! Eu afirmo!
- Acho que vou dar uma ligada para ela passar aqui. Quem sabe, eles não se acertam de novo, e Carlos esquece toda essa história. – Dantas abraça Sônia dando um grande sorriso, percebendo que tudo o que dissera não teria adiantado de nada.
- Sabe mulher, mesmo com toda essa “neura” que você tem pelo Carlos, muitas vezes você tem razão, por isto eu te amo!
- Eu sei que é uma “neura”. Muitas vezes não quero agir dessa forma, mas é compulsivo.
- Vamos fazer um acordo! Vamos tentar dar mais espaço para ele agir. Sem nunca perdê-lo de vista, topa? – Dantas e Sônia ainda abraçados trocam um beijo carinhoso.
Passado quase um mês sem que Carlos e Ivan tivessem um novo motivo para uma conversa. Além disso, Ivan estava evitando encontros com Carlos. Nos últimos dias, Carlos estava novamente se de namorinho com Carla, seguindo um pedido de sua mãe. Carla não era bem o tipo de namorada que a mãe de Carlos pretendia para ele. A garota estava mais para a irreverência de Ivan do que para a seriedade de Carlos. Mas diante das circunstâncias ela era a única opção para afastar Carlos de Ivan. Sônia como mulher, sabia que quando uma mulher quer, e sabe usar as armas que tem, destruí toda e qualquer amizade que um homem tenha. Naquilo que conheceu de Carla, imagina que ela seja uma destas mulheres. Sônia mesmo achando que Carla não era a melhor opção, imaginava que na hora certa poderia acabar com este namoro, do mesmo jeito que tinha feito Carlos ficar com Carla.
Naquela tarde, Carlos estava em casa na companhia de sua mãe e de Carla. Sônia diz receber um telefonema avisando que uma de suas tias estava com problemas de saúde e estava internada num hospital próximo à sua casa. Se dizendo abalada com a notícia Sônia, resolve ir ao hospital, deixando Carlos e Carla a sós. Como Carlos, nos últimos dias estava tendo mais contato com Carla. Estava tendo em Carla a única pessoa com quem ele poderia falar das coisas que tinham acontecido com ele.
- Carla, você acredita que uma pessoa que tá morta possa falar com os vivos?
- Acreditar, não! Mas já ouvi falar. Por que você quer saber? Não sabia que se interessava por coisas deste tipo!
- Promete que não conta pra ninguém o que eu vou te dizer?
- Ah, Carlos, nem precisava perguntar!
- Sei que não contaria pra ninguém! Mesmo assim não custa perguntar para ter certeza. Sei que minha mãe mais cedo ou mais tarde vai fazer o costumeiro interrogatório, isto é só para que você não caia na tentação de contar para ganhar a confiança da sogra!
- É essa imagem que você tem de mim?
- Particularmente de você não! Mas como toda mulher, você está sujeita à força da natureza. Que é não guarda segredos! Vamos lá ao meu quarto, quero te mostrar uma coisa! – Carlos e Carla estão sentados à mesa da cozinha, conversando alegremente. Apesar das diferenças de personalidade que há entre eles, Carlos se sente muito à vontade quando estava com Carla. No momento que se conheceram, ele ficou muito admirado com a personalidade forte de Carla. Os amigos tentaram deixá-lo embaraçado com o trocadilho do nome deles, e ela sem o conhecer, disse que o nome deles só representava como eles poderiam se dá bem no relacionamento que teriam dali para frente, lhe dando um beijo inesperado. –
- Agora eu é que digo! Como todo homem, você está sujeito à força da natureza. Na primeira oportunidade em que estamos sós, pensa logo em me levar para seu quarto! Está pensado o que de mim! Pensa que sou desse tipo!
- Que cabeça! Parece até que eu usaria desse argumento para te chamar ao meu quarto. Se eu estivesse com outra intenção que não fosse de te mostrar uns email que tenho arquivado no meu computador. É que através do computador que estou tendo uma conversa com uma pessoa que afirma que morreu. E este computador fica no meu quarto!
- Que cabeça é a sua! Pensar que eu cairia no cantada desse nível! Escolhe outra maneira de me chamar para seu quarto. Se for uma cantada bem elaborada, quem saberá se eu não aceito! Mas tem que ser romântica, se não, não dá! – Carlos fica vermelho de vergonha com as palavras de Carla. Carla é uma moça bem formada, com seu um metro e setenta de altura, pele morena bronzeada pelo sol, olhos esverdeados. Uma garota que se pode dizer atormentar as noites de muitos rapazes na idade de Carlos. Ele tenta manter suas idéias voltadas para o que quer mostrar a Carla. Queria ter uma pessoa em que fosse possível confiar. Carla por sua vez, não esconde a atração que tem por Carlos, aquela poderia ser a oportunidade que tanto esperava para firmar o namoro com ele.
- Se fosse esta minha intenção, eu nem dizia nada e tão pouco iria para meu quarto, estamos sós mesmo! Tudo que falei é verdade. Tenho trocado emails com uma pessoa que afirma que tá morta. E ainda mais, que morreu de uma over-dose. – Carla percebe que ele estava falando a verdade, notando ar de preocupação na sua voz.
- Desculpa Carlos, minha brincadeira! Não escondo de ninguém que gosto de você! Estando nós a sós, pensei que você estivesse envergonhado, e estava falando isso para quebrar o clima, e você ter coragem para me pedir em namoro.
- Eu pensei que estávamos namorando!
- Namorando não, ficando! Ficamos quantas vezes?
- Umas seis vezes!
- Eu, particularmente, não considero ficar esporadicamente como sendo um algo que se possa levar a sério!
- Desculpe, não era esta minha intenção! Ando pressionado pelos meus pais, pegando no meu pé. Eles querem que eu me desligue do mundo a minha volta para pensar exclusivamente no vestibular. Só que a vida tá colocando no meu caminho outros objetivos que não são os mesmos deles. E isso tem me causado uma tremenda confusão!
- Explica melhor, Carlos, para eu poder entender?
- Um tempo atrás eu estava fazendo uma pesquisa para um trabalho do colégio. E encontrei um site com um nome que me chamou a atenção. Olha só, um site que falava de drogas com o nome de Pequena História. Acessei o site, e como tinha a intenção de fazer umas perguntas especificas a respeito do assunto das drogas, dei meu email para contado. Agora sempre acesso a internet para olhar meus emails, tem uma mensagem deste tal de Marcos que afirma que está morto. Uma das coisas são estes emails. Outra vez, foi um sonho que tive durante várias noites seguidas que, me deixa bem fora de tempo, a ponto de meus pais pensarem que eu estava fazendo uso de drogas. Aí, vem essa preocupação com o Ivan!
- Agora é que eu não estou entendendo nada! Preocupação com o Ivan?
- Eu explico: Todas estas coisas que falei, têm algo em comum, as drogas. O sonho que tive mostrava-me como se fosse um lugar onde as pessoas que fazem uso das drogas ficam; e o estado físico dos mesmos, que parecem com animais deformados. Os emails são de uma pessoa que diz ter morrido de uma overdose de drogas!
- E onde Ivan entra nessa história?
- Não sei direito! Ivan é meu amigo desde a infância. Alguma coisa lá dentro de mim, diz que é preciso que eu o ajude!
- E Ivan, usa mesmo drogas?
- No ano passado ele me falou que usou drogas numa festa.
- Então, só por que ele fez uso no ano passado você está deduzindo que ele continua usando ainda?
- Não é só por esse motivo, não! É também pela maneira como ele tá agindo. Sempre desconfiado, como se de uma hora para outra as pessoas fossem descobrir o que ele anda fazendo. Não anda mais com os mesmos amigos com quem costumava sair. Está achando que pode fazer tudo o que ele quiser sem ter que dar satisfação á ninguém.
- Será que ele só não está querendo ter liberdade para tomar suas próprias decisões? Como você mesmo estava falando? Que se sente pressionado pelos seus pais. Mas a vida estava colocando no seu caminho outros objetivos, que não são os mesmos deles, e ele só esta tendo a coragem de tentar ser livre.
- O seu ponto de vista tem muito a ver, se não fosse à agressividade com que ele tem agido. Para ele, as pessoas não passam de uma ruma de “bundões”. Só ele e a turma com quem ele anda é que são os espertos.
- Mesmo assim, você ainda pensa em ajudá-lo?
- Digamos Carla, que você tivesse irmãos e fosse um deles que estivesse com estas características de comportamento, você não tentaria ajudá-lo?
- Carlos, o Ivan não é seu irmão.
- Tá bom, ele não é meu irmão! Então se no lugar de seu irmão fosse uma pessoa que você amasse muito, assim como eu!
- Pensa que está com essa bola toda, meu filho?
- Sem brincadeira! Você tentaria me ajudar?
- Todos os motivos que você falou, são com pessoas muito próximas de nós.
- Tá vendo porque eu te pedi para não contar a ninguém o que te falei? Toda mulher tem o instinto de proteger as pessoas que ama. Ficando indiferente aos mesmos problemas em uma outra pessoa. Assim, na primeira oportunidade que tivesse faria uma parceria com minha mãe para me proteger!
- O que você diz é que ficarei como sua mãe? Ou você está tendo uma crise de machismo!
- Nem uma coisa nem outra! Só estou falando de como muitas pessoas não estão interessadas nos problemas dos outros até o momento em que ele bate a sua porta, atingindo as pessoas que eles gostam!
- É normal tentarmos defender as pessoas que gostamos.
- Não estou falando que não é normal defender quem se gosta, mas que para defender as pessoas não é necessário colocá-las dentro de uma redoma de vidro! – Carlos levanta da mesa para tomar um pouco de água e faz silêncio por alguns instantes. Como se os dois estivessem dando um tempo para refletir sobre aquele momento em que eles estavam deixando de pensar como dois adolescentes, para raciocinarem com pessoas adultas. – Falamos tantas coisas, que fugimos da questão principal que é saber sua opinião sobre estes emails que ando recebendo.
- A principio, pensei que era uma brincadeira sua. Mas depois do que você falou acho que pode ter uma verdade por trás desses emails. Mesmo que a pessoa não esteja falando dela mesmo, pode estar contando uma história de outra pessoa. Me conta mais?
- Sempre assim, acesso a Internet e abro meus emails tem uma mensagem deste tal Marcos! Ele me manda fotos de campanhas contra as drogas, relatos de pessoas que já foram consumidores. – Carlos e Carla vão para o quarto para ver se conseguem comunicar-se com o suposto Marcos. Carlos faz o mesmo procedimento das outras vezes, mas não obtém nem uma resposta do suposto Marcos. Este fato deixa Carla ainda mais confusa. Ela quer de todas as formas acredita em Carlos. Mas fica apreensiva por não entender o motivo de tanta preocupação de Carlos com Ivan.
- Não seria melhor você esquecer toda esta história! Apagar todos esses emails. Deixe que Ivan siga o caminho dele. Vou te confessar uma coisa! Eu também não vou com a cara desse teu amigo!
- Ivan é um cara legal! Sei que está meio perturbado. Eu por muitas vezes já me coloquei no lugar dele, confesso fiquei assustado, por sentir que de uma hora para outra todas as pessoas a minha volta me abandonariam. O cara é meu amigo, cresceu comigo, ai todos dizem: Deixa ele pra lá. Que morra sozinho!
- Não é por ai, não Carlos! Você está sendo muito radical na sua vontade de ajudar seu amigo. Tem outras pessoas a sua volta que também querem sua afeição. E você não quer levar em conta a opinião deles. Todo por causa E-mails que você não tem certeza se são verdadeiros. Sem falar nos sonhos! Olha Carlos, te liga! Tenho que ir, você me leva ate lá fora? – Carla despede-se de Carlos com um longo e apaixonado beijo, sem perceberem que Sônia os observava a distância.