sexta-feira, 16 de abril de 2010

Saudade ou Liberdade



      Numa manhã de domingo. Ainda deitado na cama que me torturou a noite inteira com suas argumentações. Procuro forças para levantar, mas não consigo.  Tudo que uma pessoa quer depois de 20 anos de casado é estar só por uns dias, certo? Imaginamos, sonhamos, deliramos pela simples possibilidade de estar só por uns dias. Mas, quando isto acontece, lá está à cama a nos tortura com suas indagações a respeito da solidão. A noite passa arrastada, lenta, muito lenta, e de vez em quando zomba da minha cara. Não fala baixinho, como de costume, nas noites de amor que presencia. São gritos severos, amargos de quem se sente mal por de estarmos a sós. A noite vai passando desfilando para mim um rosário de maldições. E eu calado, retrospecto, no silêncio absurdo, quero gritar, estou livre! Concentro-me na palavra que quero dizer. Não quero perder esta batalha boba para uma cama. Respiro fundo, inflo o peito, grito. O som que saia não é o que eu esperava. Não é um grito alto da supremacia masculina. É uma fala rouca dos que sofrem a ausência do amor.